Os
vereadores integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura a
suposta dívida milionária que a empreiteira Andrade Gutierrez (AG) –
investigada pela Lava Jato – cobra de Betim se reuniram pela primeira vez nessa
semana.A comissão foi nomeada terça-feira (12) pelo presidente da Câmara,
Klebinho Rezende (PSD), durante a reunião do Legislativo local.
São
integrantes da CPI os vereadores Claudinho Fernandes (DEM), Tiago Santana
(PCdoB), Eliseu Xavier (PTB), Gilson da Autoescola (PPS) e Layon Silva (PHS).
Ainda
durante a plenária, Klebinho repassou para a comissão toda a documentação que a
prefeitura enviou ao Legislativo sobre a cobrança da AG por supostas obras de
saneamento e urbanização realizadas na cidade entre 1979 e 1982. Dentre os
documentos, está o resultado da auditoria realizada pela empresa BRN Perícia,
Auditoria e Avaliação, que analisou todo processo que originou a suposta
dívida.
Na quinta
(14), os vereadores indicados decidiram que Claudinho será o presidente da CPI,
e Tiago Santana ficará como relator da comissão. “É uma documentação bem
farta que foi repassada para a Câmara, que temos que auditar também. A
prefeitura fez uma auditoria, mas o Poder Legislativo, como órgão fiscalizador,
também tem o dever de analisar todos esses documentos. Ao final, será emitido
um parecer que será encaminhado para a prefeitura, Polícia Federal, Ministério
Público e demais órgãos”, declarou Claudinho.
Segundo
Tiago Santana, será pedida também a prorrogação do prazo da CPI, porque o prazo
inicial de 90 dias já está se esgotando, já que a criação da comissão foi
aprovada em novembro do ano passado, mas nomeada só agora. “São muitas
informações que precisam ser estudadas. A perícia independente feita pela BRN
aponta que, na verdade, o município é que teria crédito a receber da Andrade
Gutierrez, pois foram feitos pagamentos com valores acima do contrato. Mas
precisamos ainda analisar toda a documentação e, somente depois disso, a
comissão emitirá um parecer que se juntará ao processo que a prefeitura move na
Justiça contra a cobrança”.
Para
Klebinho, o trabalho da comissão será de grande importância. “Será um trabalho
minucioso. A Câmara é outra esfera de poder que está analisando todo esse
processo para apurar as irregularidades e ajudar o município nessa ação”,
declarou.
Contestação
A contestação da dívida cobrada pela AG, através de precatórios, começou em
março de 2017 quando a prefeitura, após 25 anos de omissões e revelias, decidiu
que a dívida deveria ser questionada. Em 2018, uma auditoria independente,
realizada pela empresa BRN Auditoria Perícia, Auditoria e Avaliação, comprovou
que Betim já quitou a dívida com a empreiteira, entre 1980 e 1985, e que o
município teria é que ser ressarcido por valores pagos a mais.
Segundo a
auditoria, em valores atuais pela tabela de correção monetária do Tribunal de
Justiça de Minas, o valor final do contrato pelas obras da Andrade Gutierrez
foi R$ 32,215 milhões. Porém, pagamentos feitos pelo município ultrapassaram em
R$ 28,99 milhões o valor final do contrato.
A Andrade
Gutierrez já declarou que não se pronuncia sobre o assunto.
Relatório
do TCU
Na semana passada, a prefeitura recebeu um relatório elaborado por técnicos do
Tribunal de Contas da União (TCU) que encontrou “potenciais irregularidades” no
contrato entre o município de Betim e a AG. Foi esse contrato que originou a
suposta dívida milionária que a empresa cobra agora da prefeitura na Justiça e
que pode inviabilizar as contas do município.
A
fiscalização feita pelo TCU foi solicitada pela Comissão de Desenvolvimento
Urbano, da Câmara dos Deputados. O relatório da fiscalização já foi encaminhado
ao Congresso Nacional. Os técnicos do TCU analisaram toda a documentação
relativa ao processo, e realizaram uma inspeção na própria prefeitura, em
setembro de 2018, para conferir documentos encontrados nos arquivos
municipais.
No
relatório, assinado pelo ministro Aroldo Cedraz, o TCU conclui que “não é
possível precisar que a entrega da obra ocorreu”. Segundo o relatório, não há
documentos que comprovem de forma fidedigna que a Andrade Gutierrez teria
realizado todo o serviço previsto no contrato, já que não existem, por exemplo,
diários de obras, medições, laudos e vistorias.
Em seu
parecer final, o ministro ressaltou que “é possível concluir que a execução do
contrato (com a AG) se deu em meio a uma série de potenciais irregularidades,
tais como falta de especificação do objeto, ausência de projetos, fiscalização
falha, aditivos exorbitantes, recebimento da obra sem termo circunstanciado de
vistoria, e ainda assinatura de termo aditivo após o encerramento do contrato e
entrega do objeto”.
Sobre esse
último item, há valores expressivos cobrados alguns meses após o suposto
término da obra assinados pela AG e pelo governo do ex-prefeito Osvaldo Franco.